sábado, 15 de outubro de 2011

           Ele falara-me, porém eu não respondera. Estava tão absorta a contemplar a sua beleza, apercebendo-me que ele era cada vez mais bonito à medida que o tempo passava. A sua voz ecoava na minha cabeça como uma célebre cena mítica de hipnotismo. E o cheiro que ele emanava seduzia-me de imediato. 
           Ele era o típico homem prefeito! O homem dos sonhos de qualquer jovem. Bonito. Sedutor. Atraente. Cativante. Inteligente.
           Não fazia promessas. Talvez porque uma vez ousamos falar que tais eram palavras pelo vento. Ele sabia que o tempo voava e aproveitava tudo quanto podia ao máximo. E tinha a prefeita noção que o meu ontem tinha sido o melhor dia da minha vida e, como tal, tencionava repetir.
           Ele era o simbólico parte corações e eu estava ciente disso. Sabia com o que podia contar. Esperava tudo dele; estava preparada para qualquer acto ruim vindo da sua parte. Contudo, não doía e isso não me provocava a tal sensação de tristeza profunda, porque eu não o amava incondicionalmente. E lá vinha aquela impressão de não pertencer a lugar algum ou de não ter um lugar para onde voltar.
           Pensava que nada me poderia fazer recordá-lo! Porém fora uma hipótese inútil, em vão. Porque uma música, uma palavra uma hora do dia, um gesto ou um lugar remontam-nos para o nosso passado mais saliente; tal como ele. E se eu antes não tinha nada que me fizesse pensar nele, hoje tenho! 
           E o que mais me faz odiá-lo é o facto de perder tanto tempo a pensar nele.
2011-09-18

domingo, 9 de outubro de 2011

                      E cada nota afinada dessa música abala-te o coração, pois tens noção da crueldade. Da tua crueldade.
                      Mas onde tinhas a cabeça, actriz de teatro? Pensavas que podias dar conta do recado? Que podias amar um e tentar adorar a outro? Meu amor, tu não podias representar os dois papéis ao mesmo tempo num só palco.
                      Todavia, preferiste remar contra a maré. Preferiste dar um tiro no escuro. Preferiste cair sozinha sem conselho algum. E nesse momento rezavas para que a tua morte chegasse rápido e imploravas a Deus que o guiasse enquanto não estivesses por perto. E tu tiveste tanta sorte, actriz de teatro! Mesmo magoado ele levantou-te. Teve essa ousadia. Foi algo nobre. Louvável. Notável.
                      E se se alterassem os papéis? Se te fosse incumbido representar o papel dele? Que farias tu, actriz de teatro? Fugias, decerto. Acabarias por entrar em modo suspenso. Desligando por completo. Porque tu és fraca demais para aguentares com uma dor igual à que ofereceste.
                      Então, branda aos céus e orgulha-te daquilo que tens hoje! Tiveste tanta sorte, actriz de teatro, tanta sorte. Porém louvo-te: não gritaste, não choraste, não pediste ajuda.
                      Até teria sido uma bela história de amor, caso Shakespeare não tivesse escrito Romeu e Julieta.
                      E dói-te. Dói-te cada vez mais à medida que a música se aproxima do seu auge, dado que descobres mais um pedacinho que completa a tua crueldade. Elevando-a a um estado ainda maior.
                      E agora diz-me: foi necessária uma música, que ele te mostrou, por acaso, para mudar a tua vida? Para te abrir os olhos à realidade, actriz de teatro?

The Last Fight
2011-05-09

domingo, 2 de outubro de 2011

Se sabes que te magoa, porque insistes em lembrar? Se sabias com o que podias contar, porque te prendeste a um futuro incerto? Se sabias que ele não tinha valor algum, porque seguiste em frente e criaste esperanças impossíveis? Se sabias que não ganharias mais do que a diversão de uma noite, porque te arriscaste a tal? Já não tinhas nada a ganhar! E existia um pressentimento de que teria sido melhor ele não ter regressado, visto que foram oportunidades deitadas ao ar e levadas pelo vento. Oportunidades que tu querias aproveitar e ele deixou escapar pelas mãos.  
Porém, tu foste forte e admiro-te por tal. Talvez ainda mais por teres tido a coragem de o olhar nos olhos, dizendo-lhe já foi, deixa morrer. E o medo patente nos seus olhos ao ouvir isso, fora maior do que todo o teu desprezo por ele.
E não choraste! Provavelmente porque não o amavas na totalidade, ou até mesmo nem chegasse um dia perto disso. E esse sentimento anulou toda a dor que poderias vir a sentir. Era-te indiferente!
E ele nem a consciência tem das palavras que dissera em vão.

  2011-10-01
 
         Hoje não. Hoje não é dia para eu te dar conselhos e dizer-te o que é melhor para ti.

            Hoje não fales para mim, por favor. Não me perguntes como estou. Não me faças narrar o meu dia. Deixa-me absorta na música e não murmures, por favor.

            Não. Não estou triste, nem perto disso. Sinto-me bem, é aquela sensação de promessa cumprida. Embora, em contrapartida, outra tenha sido quebrada.

            Mas é a tal coisa: é-me indiferente; não dói. Eu estava preparada para tudo; para continuar a falar com ele, para deixar de o fazer, até mesmo para terminar tudo ali. Todavia, não estava ciente de que ele poderia não aparecer, tal como sucedeu, pois eu nunca pusera essa opção.





      Por isso, por favor, hoje não fales para mim.



2011-09-17