domingo, 9 de outubro de 2011

                      E cada nota afinada dessa música abala-te o coração, pois tens noção da crueldade. Da tua crueldade.
                      Mas onde tinhas a cabeça, actriz de teatro? Pensavas que podias dar conta do recado? Que podias amar um e tentar adorar a outro? Meu amor, tu não podias representar os dois papéis ao mesmo tempo num só palco.
                      Todavia, preferiste remar contra a maré. Preferiste dar um tiro no escuro. Preferiste cair sozinha sem conselho algum. E nesse momento rezavas para que a tua morte chegasse rápido e imploravas a Deus que o guiasse enquanto não estivesses por perto. E tu tiveste tanta sorte, actriz de teatro! Mesmo magoado ele levantou-te. Teve essa ousadia. Foi algo nobre. Louvável. Notável.
                      E se se alterassem os papéis? Se te fosse incumbido representar o papel dele? Que farias tu, actriz de teatro? Fugias, decerto. Acabarias por entrar em modo suspenso. Desligando por completo. Porque tu és fraca demais para aguentares com uma dor igual à que ofereceste.
                      Então, branda aos céus e orgulha-te daquilo que tens hoje! Tiveste tanta sorte, actriz de teatro, tanta sorte. Porém louvo-te: não gritaste, não choraste, não pediste ajuda.
                      Até teria sido uma bela história de amor, caso Shakespeare não tivesse escrito Romeu e Julieta.
                      E dói-te. Dói-te cada vez mais à medida que a música se aproxima do seu auge, dado que descobres mais um pedacinho que completa a tua crueldade. Elevando-a a um estado ainda maior.
                      E agora diz-me: foi necessária uma música, que ele te mostrou, por acaso, para mudar a tua vida? Para te abrir os olhos à realidade, actriz de teatro?

The Last Fight
2011-05-09

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